Imigração e o Mercado de Arte Africana 

*texto escrito por Alice Buratto

A partir dos anos 2000, o mercado de arte africana cresceu cada dia mais através de ações organizadas pela Bonhams e pela Sotheby’s em Londres. Atualmente se tem grandes colecionadores de arte contemporânea africana ao redor do mundo, principalmente em Londres, Paris, Veneza e Nova York. 

Em 2008 foi organizada a primeira feira de arte no continente africano, ocorrendo em Johannesburg. Desde então foi criada em 2012 a Cape Town art Fair na Cidade do Cabo e a ART X LAGOS na em Lagos, constituindo-se assim Africa do Sul e Nigeria como os dois grandes polos de arte contemporânea da Africa.  

Apesar, da arte contemporânea ter reconhecimento em outros países africanos, muitos artistas que são naturais desses dois polos, tem a necessidade de imigrarem para expandirem o reconhecimento de sua obra além das fronteiras de seus respectivos países.  

Paulo Chavonga, artista angolano, representado pela Baka Gallery aqui no Brasil, desde cedo conquistou o prestigio no mercado de arte de Angola, estando presente diversas coleções particulares em seu país. Para expandir alem das fronteiras angolanas e luso-africanas, o artista sentiu necessidade de sair de seu país, e assim como muitos de seus conterrâneos migrou para o Brasil. Residindo desde 2016 em São Paulo, vem conquistando cada vez mais a cena artística paulistana, tendo ja participado de diversas exposições no SESC e da VII e VIII Bienal CPLP (Cuktura Lusófonas) e da Bienal Expofacic de 2019 em Portugal. 

Contudo, muitos artistas migram para os próprios polos de arte dentro do continente africano, como é o caso da artista Lizette Chirrime, quem também faz parte da Baka Gallery aqui no Brasil. Lizette é uma artista moçambicana  que já participou de diversas exposições na Africa e na Europa.  

As trajetórias imigratórias dos artistas do continente africano muito se desenham por fronteiras socio-lingüísticas. Os artistas angolanos tem grande imersão no mercado de arte português, assim como os moçambicanos e os de São Tomé e Príncipe. Já os artistas congoleses tem mais fácil imersão na Bélgica e na França, e os sul-africanos na Inglaterra.  

Tantos as trajetórias imigratórias dos artistas quanto a expansão de suas respectivas obras transcendem antigas barreiras coloniais. Assim como a colonização europeia influenciou diretamente a cultura e a estrutura socioeconômica do continente africano, a Diáspora Africana e  também esses novos processos imigratórios colaboram para a construção identitária dessas localidades geográficas em que se constituem essa rede reticular migratória; criando-se  assim estruturas que conectam-se social e culturalmente, seja por meio da história e de um passado comum, ou de manifestações artísticas, cientificas e/ou religiosas. 

Aqui no Brasil, a Baka Gallery, constituído pela parceria da Marchand de arte Rosa Barbosa e a Antropóloga Alice Buratto, tem como objetivo principal explorar o constructo da identidade da cultura brasileira que se dá pela integração de manifestações culturais tanto coloniais, indigenas e africanas que se hibridizaram. Sendo assim, nesse projeto Rosa Barbosa e Alice Buratto apresentam obras de acervo de artistas brasileiros e africanos que exploram aspectos da identidade Afro-América.  Além da arte contemporânea, o Baka Studio tem desenvolvido ao longo dos anos um acervo em arte tradicional africana, composto por artefatos históricos e sociais de diversas etnias, sobretudo da África do Sul e Camarões.  Sem um modelo de representação exclusiva, Rosa Barbosa e o Baka Studio apresentam-se como mais uma plataforma de divulgação de artistas com identidades diversas. 

Abayomi: as histórias por trás da boneca de pano

Abayomi vem do iorubá, um povo com raízes no sudoeste da África, onde, hoje, ficam a Nigéria e parte do Benin. Ela é a união de abay = encontro e omi = precioso, mas a palavra tem outros significados possíveis. Pode ser entendida como “aquele que traz felicidade ou alegria” ou “meu presente”. O nome remete a uma boneca preta de tecido, feita com nós que formam as mãos, os pés e a cabeça. Elas podem medir entre dois centímetros e um metro e meio e sua origem é muito discutida.

O passado distante das Abayomis

Muito se disseminou que as mulheres sequestradas no continente africano para serem escravizadas no Brasil rasgavam retalhos de suas roupas e confeccionavam pequenas bonecas nos porões dos tumbeiros, como eram chamados os navios que faziam o transporte entre os dois lugares. A razão de fazê-las, no entanto, não é um consenso.

Uma versão defende que as mães faziam os pequenos objetos para distrair seus filhos pequenos, que ficavam inquietos durante as longas viagens. Uma segunda narrativa diz que eram presentes aos filhos, de quem seriam separadas na chegada aos portos brasileiros. O tipo do tecido e da estampa indicavam a região de onde haviam saído, o que auxiliaria os filhos a encontrá-las novamente. Outra história conta que as bonecas serviam como amuleto de proteção durante as viagens e a nova vida do outro lado do oceano. Sua feitura não teria se limitado aos navios, continuando nas senzalas.

A ausência de marcações faciais – olhos, nariz e boca – teria a intenção de não privilegiar uma ou outra etnia, representando a coletividade dos povos que, sem distinção, eram escravizados pelos colonizadores. As Abayomis seriam, então, um símbolo da resiliência dos povos negros, de proteção e, acima de tudo, do amor de mãe.

A história, no entanto, não é bem assim. Não há qualquer registro histórico que associem as bonecas ao período colonial.

Uma versão mais recente

Em 1987, Lena Martins, artesã maranhense radicada no Rio de Janeiro, trabalhava como animadora cultural em um projeto no Centro Integrado de Educação Pública (CIEP) Luiz Carlos Prestes, na Cidade de Deus. À época, ela confeccionava bonecas de palha de milho e de algodão com retalhos de tecido. Movida pela aproximação com o movimento ecológico, ela intencionava a conscientização por meio do reaproveitamento de materiais que se tem em casa e das sobras de tecidos das fábricas e confecções.

Diversos outros movimentos sociais – o movimento negro e o feminismo – também conquistavam espaço. Às vésperas dos 100 anos da Abolição da Escravatura, uma marcha que paralisou a cidade era organizada e o 1o Encontro Nacional de Mulheres Negras, que aconteceu em Valença no ano seguinte, tomava forma. A arte educadora, tentando se entender negra e atuando junto à Secretaria de Cultura, acompanhava as discussões empreendidas ali e vivia intensamente todas as transformações. Como uma reação natural a essa atmosfera, seu trabalho foi tomando novas formas, mais atrelado às questões sociais.

Ela ministrava diversas oficinas de artesanato, que serviam de ponte entre a comunidade escolar e a comunidade externa. Antes de um desses eventos, produziu uma boneca amontoando retalhos de tecido e fazendo nós nas extremidades. Naquele dia, ensinou a técnica e, desde então, suas oficinas passaram a ter um tema: as bonecas sem cola e sem costura. O nome veio só depois. Ana Gomes, uma amiga do Movimento Negro que integrou os primeiros grupos de Abayomis, estava grávida e tinha duas opções para o bebê. Abebe, em homenagem ao primeiro negro africano a ganhar uma medalha de ouro em Jogos Olímpicos, e Abayomi, se fosse menina. Nasceu um menino, do qual Lena é madrinha. O nome feminino tornou-se, assim, o da boneca.

Ao longo dos anos, diversos grupos que trabalham na confecção das bonecas surgiram no Brasil e no exterior e elas adquiriram importância na luta contra o racismo. Sempre produzidas a partir de uma visão positiva, podendo encarnar diversas profissões – até presidente da república –, seus significados são o de reconhecimento de si e o de pertencimento, sobretudo para as crianças negras, que aprendem brincando que podem querer ser qualquer coisa.

A que serve a lenda em torno da boneca

Tanto para Lena, quanto para historiadores diaspóricos, atrelar as Abayomis ao período colonial e aos navios negreiros se deve ao racismo. O movimento de afastá-las do contexto contemporâneo serviria para diminuir o caráter positivo e ligar, conforme costuma ocorrer, a cultura e os indivíduos negros a uma ideia de passividade, a um ambiente ruim, a tudo que é negativo e degradante.

De outro lado, também romantiza os acontecimentos da diáspora africana, à medida que cria uma situação quase positiva para aqueles tempos. As estórias inventadas de mães que constroem brinquedos para seus filhos e filhos que se divertem a caminho de um novo mundo diminuem a culpa e mascaram a responsabilidade pelo que, de fato, aconteceu. O cenário, sabe- se, era de barbárie e as embarcações se chamavam tumbeiros não à toa. Milhões de homens, mulheres e crianças entraram a bordo, mas muitos nunca pisaram em terra firme novamente.

Por último, denota o racismo ainda encarnado em nossos dias. A perpetuação do mito que transforma um elemento da cultura em objeto de autoria desconhecida invisibiliza sua autora, uma mulher negra ainda viva que tem seu trabalho de uma vida inteira desconsiderado. Serve, também, para diminuir o poder simbólico de uma criação nascida em contexto de luta por direitos e que,

contra todas as adversidades, sobreviveu aos anos, ampliou seu alcance e chega a espaços mundo afora, contribuindo para mudanças de pensamento e de vivências.

ARTIGO ESCRITO POR ANTONIETA CAMPOS.

Dia da Mulher: qual a origem e como as mulheres negras tiveram voz

No dia 8 de março se comemora o Dia Internacional das Mulheres. A data tem origem oficial no movimento operário na primeira década dos anos 1900, mas, como toda grande transformação, as sementes foram plantadas pelas sufragistas ainda no século XIX. Em 1884, Susan B. Anthony, sufragista estadunidense, solicitou uma emenda à Constituição dos Estados Unidos que garantisse às mulheres o direito ao voto. A emenda que permitiu o voto universal veio em 1920, 13 anos depois de sua morte e concomitante a outras conquistas feministas.

Em 1908, o Dia da Mulheres foi marcado pela marcha de alguns milhares de mulheres, que ocuparam as ruas de Nova York. Elas exigiam redução das jornadas de trabalho e salários melhores. Além disso, queriam tomar parte nas decisões políticas do país: lutavam pelo direito ao voto, ainda exclusivo aos homens. Um ano depois, o ato se repetiu, ainda sem indícios de que seria perpetuado. Em 26 de agosto de 1910, durante a Segunda Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, em Copenhague, Clara Zetkin, uma ativista marxista e feminista alemã, propôs tornar a data internacional e anual. A ideia era fazer, do evento, palco de manifestações pelo direito de voto das mulheres, pela igualdade entre os sexos e pelos ideais de esquerda.

O primeiro Dia Internacional da Mulher foi comemorado em 19 de março de 1911 na Alemanha, Áustria, Dinamarca e Suíça e, a princípio, não tinha um dia fixo – a data usada hoje surgiu apenas posteriormente. Em 23 de fevereiro de 1917 do calendário juliano, usado na Rússia da época, oito de março do gregoriano, um grupo de operárias protestou nas ruas de São Petersburgo contra a fome e a Primeira Guerra Mundial, no que ficou conhecido como “Pão e Paz”. Poucos dias depois, o czar Nicolau II foi forçado a abdicar e o governo provisório concedeu às mulheres o direito ao voto.

Com a conquista, instituiu-se a data do protesto russo como o dia oficial das celebrações da luta feminina. A ONU, no entanto, só oficializou o Dia Internacional das Mulheres em 1975, mais de 50 anos depois.

As mulheres no front

            A história do feminismo coloca mulheres brancas no centro, como aquelas que puxaram as companheiras consigo e garantiram os primeiros direitos. De fato, os principais nomes, os mais lembrados, são de senhoras aristocratas que, muitas vezes abolicionistas, como a própria Susan B. Anthony, lutaram por direitos iguais sem, no entanto, deixar de impedir que mulheres negras encontrassem espaço para compor as ligas femininas.

            Mesmo assim, elas não se abstiveram. Somando 20% do contingente de mulheres que integravam a força de trabalho dos Estados Unidos na primeira década do século XX, elas tinham as próprias questões a defender. Não só tinham a restrição de sexo, mas de classe e de cor. Suas razoes para defender o voto universal eram triplas.

            Diversos são os nomes de trabalhadoras negras que nunca foram aceitas pela Associação Nacional das Mulheres pelo Sufrágio Feminino. As recusas às candidaturas se explicavam pelo suposto receio de que, ao aceitarem associações inteiras de mulheres negras, as sufragistas do sul americano, defensoras da escravidão, se opusessem ao movimento e dificultassem a conquista do voto universal. As barreiras, no entanto, não pararam essas mulheres de apoiar com tudo que lhes estivesse ao alcance a luta pela participação feminina na política. Conheça três mulheres negras que contribuíram com as lutas femininas do início do século XX:

da B. Wells nasceu como escrava no Mississipi, foi jornalista e editora do Free Speech and Headlight, sufragista, feminista e socióloga. Encabeçou uma campanha anti-linchamento depois que seu amigo Thomas Moss, um comerciante bem-sucedido, foram assassinado por concorrentes brancos.  Também foi uma das fundadoras da Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor (NAACP) em 1909, contribuindo para o movimento dos direitos civis. Ao longo da vida, integrou o Partido Republicano, onde teve forte atuação política, mas, descontente com a postura de ambas as frentes políticas, no fim da vida concorreu de forma independente à câmara de Illinois.
Mary Eliza Church Terrell foi a primeira mulher negra a ser nomeada para o conselho escolar de uma grande cidade, o Distrito de Columbia. Juntou-se a Ida B. Wells em campanhas anti-linchamento depois da morte de Moss. Em sua carreira como ativista, fundou a NAACP e a Liga das Mulheres de Cor de Washington. Também participou da fundação da Associação Nacional das Mulheres de Cor, sendo sua primeira presidente, onde trabalhou pelo sufrágio feminino e o sufrágio negro. Com esse objetivo, fez campanha entre as organizações negras e as principais organizações brancas.
Mary Jane McLeod Bethune foi uma educadora, filantropa e ativista dos direitos civis. Defendia a igualdade racial e de gênero, fundou diversas instituições, incluindo uma escola particular para afro-americanos, que transformou em faculdade. Liderou campanhas de registro de eleitores depois que as mulheres ganharam o direito de voto e participou da transição dos eleitores negros do Partido Republicano para o Democrata durante a Grande Depressão. Foi presidente da Associação Nacional dos Clubes de Mulheres de Cor e presidente fundadora do Conselho Nacional das Mulheres Negras. Também foi a afro-americana com o mais alto cargo no governo americano, como diretora de Assuntos Negros para o presidente Roosevelt.

 Artigo escrito por Antonieta Campos – Psicóloga e mestra em psicologia clínica pela PUC-SP, pesquisa sobre literatura e saúde mental da Mulheres

Abolição da Escravatura no Brasil

O dia 13 de Maio, data oficial da abolição da escravatura no Brasil, não é comemorado como dia da libertação de negros e negras do país.

Data da assinatura da Lei Áurea, o 13 de Maio é comemorado como o Dia da Abolição. Sendo comum conferir à Princesa Isabel a responsabilidade quase total pelo evento.  Entretanto, a abolição da escravatura ocorreu gradualmente, com suas discussões se desenrolando ao longo de todo o período imperial. É interessante perceber que a data sequer é comemorada pelo movimento negro. Isto em decorrência dos termos em que se deu a libertação dos escravos.

Liderado por interesses nacionais, mas sem ignorar pressões externas, o abolicionismo era mencionado desde o tratado de reconhecimento da independência. Sendo alvo de várias iniciativas nas décadas seguintes. Você conhece os detalhes do processo da abolição da escravatura, que repercute até hoje?

A PRESSÃO INTERNACIONAL DO SÉCULO XIX

Ainda enquanto domínio português, o território brasileiro sofria pressões pela abolição da escravatura, especialmente por parte da Inglaterra. Se na primeira metade do século XIX as discussões concentravam-se na abolição do tráfico humano, somente a partir de 1850 cresceram as pressões, no sentido de proibir a própria escravidão.

No século anterior, a Inglaterra fora pioneira na Revolução Industrial e tinha grande interesse na busca de novos mercados para seus produtos. Além disso, saiu das Guerras Napoleônicas, encerradas em 1815, como principal potência marítima do mundo, segundo o historiador Eric Hobsbawn. A maior parte dos escravos era transportada pela via marítima a partir do continente africano e este comércio era um dos negócios mais lucrativos da época. Assim, a força da marinha britânica tinha capacidade de exercer forte pressão sobre esse comércio.

Os interesses ingleses eram múltiplos e não se concentravam em preocupações humanitárias. Na verdade, o tráfico possuía forte impacto sobre os interesses econômicos britânicos. Isto porque poderia reduzir os custos de produção de países concorrentes e afetar os mercados consumidores de produtos britânicos, pois o fim do tráfico liberaria expressivas quantidades de capitais, que poderiam ser utilizados em outras áreas. Assim, a Inglaterra exerceu forte pressão pelo fim do comércio de escravos que, nesse período, não se confundia com o fim da escravidão.

Já em 1815, no Congresso de Viena que encerrou as Guerras Napoleônicas, Portugal tinha como um de seus principais interesses adiar a abolição do tráfico, que era a principal fonte de mão de obra no território brasileiro. No Congresso, ficou acertado que o tráfico ficaria proibido ao Norte da Linha do Equador, garantindo a manutenção do transporte entre a África e o Brasil.

A Independência do Brasil, proclamada em 1822, só foi reconhecida por Portugal em 1825, com o auxílio da mediação inglesa. Como resultado da negociação trilateral, o recém independente Brasil renovou tratados de comércio que Portugal havia firmado com a Inglaterra, nos quais ficou estipulado o compromisso com o fim do tráfico até 1830.

Em 1831, a chamada Lei Feijó estipulou o fim do tráfico de escravos do Brasil, como prometido aos britânicos. Ela “Declara livres todos os escravos vindos de fora do Império, e impõe pena aos importadores dos mesmos escravos”. Mas a medida teve pouquíssima aplicabilidade prática, motivo pelo qual ficou conhecida como (dando origem à expressão) “para inglês ver”.

De fato, em 1822, período da Proclamação da Independência, cerca de um terço da população brasileira era formada por escravos. Em 1850, os escravos compunham 30% dos cerca de 7,5 milhões de habitantes. O que demonstrou um aumento em seu número absoluto (dados do livro A Ordem do Progresso).

Leia mais: o que são minorias?

AS CONTROVÉRSIAS POLÍTICAS

Seria muito difícil associar automaticamente a questão abolicionista a um determinado partido político. De fato, embora fosse uma reivindicação eminentemente liberal, as principais leis abolicionistas foram aprovadas por gabinetes liderados pelo Partido Conservador. Sendo este partido menos coeso sobre a questão.

Na verdade, poderíamos traçar uma batalha parlamentar que se dava entre três grupos principais: os escravistas, que defendiam a manutenção da escravidão; os emancipacionistas, que buscavam a mera libertação jurídica dos escravos (e foram o grupo vitorioso); e os abolicionistas, que apoiavam não apenas a libertação, mas a concessão de direitos aos ex-escravos, com sua plena inserção na sociedade.

Aos grupos parlamentares somavam-se revoltas negras, como a muito vconhecida Revolta dos Malês. Bem como movimentos populares, que faziam propagandas em jornais e organizavam compras de alforrias. Nomes como os de André Rebouças, Abílio Borges, Luiz Gama, José do Patrocínio ou Joaquim Nabuco desempenharam funções importantes no ativismo pela abolição.

Para a classe dominante, um argumento corrente era que se devia realizar uma “abolição por cima”, evitando risco de subversão. De fato, uma expressão muito utilizada para o período é o “receio do haitianismo”. Fazendo alusão ao medo de ocorrer no Brasil rebelião similar à que permitiu a independência do Haiti. Que foi liderada por escravos contra seus senhores.

Assim, essa classe dominante alegava que uma libertação legal daria margem a uma ideia de direito, favorecendo reivindicações e rebeliões que colocariam em risco a própria integridade brasileira. Defendia, então, que deveria ocorrer uma libertação concedida pelos senhores de escravos, que fosse vista como um ato de generosidade e favorecesse a obediência.

O FIM DO TRÁFICO: LEI EUSÉBIO DE QUEIROZ

Lei Eusébio de Queiroz, em 1850, foi responsável pelo fim do tráfico de escravos, após a aplicação quase inexistente da Lei Feijó. Na verdade, o período entre 1831 e 1850 seria marcado pela intensificação do tráfico, o que reduziria a oposição à Lei Eusébio, dada a grande disponibilidade de mão de obra escrava e o alto nível de endividamento dos latifundiários.

A Lei de 1850 seria aprovada sem grande oposição durante a “Trindade Saquarema”, um gabinete liderado pelo Partido Conservador, sendo uma das prioridades dos ministros da Justiça e dos Negócios Estrangeiros, Eusébio de Queiroz e Paulino José Soares de Sousa. 

O tema era especialmente relevante após a Lei Aberdeen, de 1845, que permitia a abordagem a navios suspeitos de transportarem escravos. A lei seria considerada um desrespeito à soberania nacional e fortemente criticada no Brasil, causando embates com a Inglaterra, em virtude de suas abordagens a navios brasileiros.

Os motivos do embate podem ser percebidos pelo nome original da lei, chamada de “Brazilian Act” (algo que poderia ser traduzido como a “Lei do Brasil”), em clara intervenção sobre assuntos domésticos. Como forma de evitar as abordagens inglesas, o Brasil chegou a recorrer à utilização de navios estadunidenses no transporte, os chamados “clippers”, a fim de evitar a fiscalização. Essa Lei funcionaria como uma forma de pressão que não podia ser ignorada, embora oficialmente a abolição já houvesse ocorrido. 

Em 1850, o Brasil entraria em guerra com Juan Manuel Rosas, então líder da Confederação Argentina. A busca pela simpatia internacional à causa brasileira favoreceria mais o fim do tráfico, que sofreu influência de pressões estrangeiras.

Leia tambémA história dos direitos étnico-raciais

LEI ABOLICIONISTAS

abolição da escravatura no Brasil

Em 1871, a Lei Rio Branco, popularmente conhecida como “Lei do Ventre Livre”, enfrentaria dificuldades maiores em sua aprovação, em um contexto de fortalecimento dos movimentos abolicionistas. A década de 1860 desempenharia importante função nesse sentido, com a abolição ocorrendo nos EUA no pós-Guerra de Secessão (1861-1865). Além da participação de negros nos batalhões brasileiros de voluntários da pátria, na Guerra do Paraguai, sob promessa de alforria. 

A Lei do Ventre Livre permitiria que os filhos de escravos permanecessem com seus senhores até os 08 anos, quando estes optariam por manter sua posse até os 21 anos ou entregá-los ao Estado, mediante indenização pelo governo. Previa ainda a possibilidade de processos por maus-tratos, restringindo a permissão de castigos corporais. A criação de organizações e a promoção de eventos destinados a estimular a libertação de escravos exerceram outra fonte de pressão pela abolição.

Por sua vez, havia forte resistência de latifundiários, que pleiteavam o fim natural da escravidão. Por um lado, se estava proibido o tráfico, não seria possível a entrada de novos escravos em território brasileiro. Por outro, a Lei Rio Branco impedia o crescimento natural dentro do Brasil. Assim, segundo eles, o fim ocorreria naturalmente.

Em 1885, a Lei Saraiva-Cotegipe ficaria conhecida como “Lei dos Sexagenários”, representando mais uma tentativa de negociação que um avanço abolicionista. A Lei Saraiva-Cotegipe previa a alforria dos idosos, aos 60 anos (podendo chegar aos 65), mas garantia o direito à indenização dos senhores de escravos.

É possível afirmar que a Lei dos Sexagenários representou um retrocesso em relação a outros projetos apresentados na Assembleia Legislativa. Isto porque estes outros projetos previam a alforria sem indenização. De poucos efeitos práticos, faria concessão aos abolicionistas no sentido de proibir o tráfico interprovincial, que crescera substantivamente após 1850. Contudo, não seria suficiente para conter um movimento abolicionista radical. Que desejava uma abolição completa imediata, que conferisse direitos aos libertos e garantisse sua inserção na sociedade.

Em 1884, os estados do Ceará e do Amazonas aboliram individualmente a escravidão, aumentando a pressão sobre o Império. Assim, às vésperas da abolição, o Vale do Paraíba seguia como a única zona ainda apegada à escravidão, o que pode ser percebido pela aprovação da Lei Áurea com grande maioria no Congresso.

Lei Áurea, em 1888, formalizaria a abolição da escravatura, no momento em que a proporção de escravos já se reduzira substantivamente. Se o censo populacional de 1872 apontava que 15% dos cerca de 10,1 milhões de habitantes brasileiros eram escravos, em 1887 estima-se que somente 700 mil dos 14,3 milhões de pessoas ainda eram escravos (cerca de 5%).

LEGADO DA ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA

A Lei Áurea foi apenas o culminar de um processo de abolição que ocorreu de forma gradual, ao longo de boa parte do século XIX. Na verdade, não é possível afirmar que esse processo já esteja encerrado, com diversos debates acerca da “escravidão moderna”. Ou de “condições de trabalho análogas à escravidão”.

A Abolição Brasileira contou com muitos marcos legais, ocorridos em contextos diversos, com peculiaridades próprias. Expressando os embates internos e as pressões internacionais sobre o tema, deixando legados de várias naturezas.

Já em 1850, a Lei Eusébio de Queiroz foi acompanhada de uma Lei de Terras e do incentivo à imigração. Buscando favorecer a substituição da mão de obra escrava pela assalariada.

Ao final do Império, a Lei Áurea teve efeitos distintos. Por um lado, não foi capaz de garantir direitos aos ex-escravos, permitindo a marginalização social do negro. Por outro, não satisfez os latifundiários, que não receberam indenizações por seus escravos. Muitos dos quais aderindo ao Movimento Republicano, ficando conhecidos como “Republicanos de última hora” e auxiliando na derrocada da Monarquia.

A abolição brasileira foi a última da América Latina e teve influência sobre a Proclamação da República. Sendo um tema rico e de grande validade para os interessados na história brasileira e seus impactos sobre a atualidade.

Referências do texto: confira aqui onde encontramos dados e informações!

ABREU, Marcelo de Paiva. A ordem do progresso. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.

AGÊNCIA BRASIL. Por que os negros não comemoram o 13 de Maio, dia da Abolição da Escravatura?. Disponível em: http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2015-05-13/por-que-os-negros-nao-comemoram-o-13-de-maio-dia-da-abolicao-da-escravatura.html

ALMEIDA, João Daniel Lima de. Manual do Candidato: História do Brasil. Brasília: Funag, 2013.

CARVALHO, José Murilo de. História do Brasil Nação: A Construção Nacional. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011.

CERVO, Amado Luiz; BUENO, Clodoaldo. História da Política Exterior do Brasil. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2015.

COSTA E SILVA, Alberto da (coord.). História do Brasil Nação: Crise Colonial e Independência. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011.

DA COSTA, Emilia Viotti. A Abolição. São Paulo: Editora Unesp, 2010.

CÂMARA DOS DEPUTADOS. Lei Feijó. Disponível em: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei_sn/1824-1899/lei-37659-7-novembro-1831-564776-publicacaooriginal-88704-pl.html

RICUPERO, Rubens. A Diplomacia na construção do Brasil. Rio de Janeiro: Versal Editores, 2017.

HOBBSBAWN, Eric J. A Era das Revoluções. São Paulo: Paz e Terra, 2010.

TEXTO ESCRITO POR: Diego Abre Leão para o site politize.com.br

LEAO, Diogo. ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA BRASILEIRA.
Disponível em: https://www.politize.com.br/abolicao-da-escravatura-brasileira/.
Acesso em: 12 may. 2022.

As máscaras são sempre simbólicas – um histórico sobre o que revelamos

Texto de Flávia Gasi*

Falar de máscaras como símbolos soa quase como um pleonasmo: a máscara é sempre simbólica. Ela representa algo para alguém, e pode ser lida mais corretamente por pessoas da mesma cultura. Assim, hoje em dia, quando você lê a palavra “máscara”, não deve se lembrar do carnaval (mesmo que tenha acontecido há pouco), mas da máscara que você fez ou comprou para se proteger e proteger aos outros da Covid-19. Na realidade, toda imagem funciona assim – a gente acessa em nós aquilo que está mais presente no momento, ou mais arraigado na cultura. Por vezes, essas duas coisas são apenas uma. Hoje em dia, contudo, não é o caso.

Por conta dessa natureza mutável, as máscaras são bem interessantes de serem estudadas. Elas desempenharam papéis totalmente diversos ao longo da história, e mesmo na hora de entender a raiz do termo, já vemos possibilidades bem diferentes. Máscara pode ter origem na palavra do latim antigo masca, que significa “espectro”, ou da árabe maskharah, sinônimo de “palhaço” e de “disfarce”. Entre o ocultamento, o sorriso, e a faceta da morte, as máscaras sempre tiveram presentes nas mais variadas culturas, sendo usadas por contadores de histórias, líderes religiosos, festeiros, artistas, entre outros.

A Máscara e o Animal Oculto

Na América do Sul, sabemos que muitos povos indígenas usavam máscaras em suas cerimônias, que simbolizavam animais, pássaros e insetos. Hoje temos pinturas rupestres do mundo tudo, que mostram caçadores mascarados também mimetizando animais. Acredita-se que essas máscaras serviam como catalisador para carregar o espírito metafórico dos animais.

Essa relação com os animais também pode ser vista na cultura dos esquimós do Alasca, que acreditavam que cada pessoa tinha uma vida dupla, uma seria o seu lado humano, conhecido pelos outros; é a outra parcela seria seu lado animal. Assim, eles tinham máscaras com faces duplas. Em algumas festas, o lado oculto era revelado.

Essa relação homem-natureza-animal é bem demonstrada em rituais xamânicos, e partem sempre de uma dialética de revelação-ocultamento, que parece condizente com esse ser duplo da cultura esquimó. A máscara não serve para ocultar apenas, serve para revelar algo que o corpo sozinho não pode fazer. A gente poderia falar a mesma coisa nas nossas roupas, cortes de cabelo, maquiagem, tatuagens. Todos esses acoplamentos a nós mesmos servem para mostrar algo que o corpo não podia mostrar sem eles. Eles são máscaras, que ocultam algo que não queremos (de uma olheira a uma pele nua), e que revelam muitas das nossas intimidades.

Podemos colocar aqui também a discussão de qual seria a máscara real: o corpo em que nascemos ou o corpo que apresentamos à sociedade. Quando um super-herói coloca uma máscara para proteger sua identidade secreta, ele revela quem verdadeiramente é (o super) ou oculta quem verdadeiramente é (a pessoa)? Assim, o disfarce é nossa verdade? Talvez sejamos exatamente a dialética entre essas duas coisas, como coloca Bachelard em seu texto “A Máscara”:

“Se o ser mascarado pode entrar de novo na vida, se quer assumir a vida de sua própria máscara, ele se confere facilmente a habilidade da mistificação. Acaba por acreditar que a outra pessoa toma sua máscara por um rosto. Crê simular ativamente após ter-se dissimulado facilmente. A máscara é, assim, uma síntese ingênua de dois contrários muitos próximos: a dissimulação e a simulação” (BACHELARD, 1986:165).

Máscaras e o Rítmo Coletivo

Os gregos antigos usavam máscaras em festas dionisíacas, regadas a dança, música, cantos, bebidas e orgias. As danças mascaradas não foram empregadas apenas na Europa, mas tiveram caráter ritualístico em diversos povos. No Brasil, o povo Tukuna evoca os espíritos em rituais de cura, com tambores, cantos e máscaras. Festas como bumba-meu-boi, cazumbá e o carnaval também trazem máscaras.

Mesmo quando o ritual a Dionísio foi proibido, sendo considerado pagão no Império Romano, as festas em Veneza traziam máscaras caras (até que foram proibidas pela polícia). O uso da máscara por coletivos, contudo, sempre esteve calcado na possibilidade de ser muitos. Nos teatros grego e japonês, o uso das máscaras no palco era quase como uma comunhão espiritual, que dava vida aos personagens, enquanto protegia os atores de serem imbuídos por maus espíritos.

Em seu livro “Filosofia Mestiça”, o filósofo Michel Serres mostra como Arlequim pode ser muitos em um, exatamente pelo uso da máscara. Podemos ver que, muitas vezes, as máscaras serão usadas com esse intuito – somos muito, somos legião – em obras que tratam de política, e mesmo na vida real. O personagem V, do quadrinho “V de Vingança”, de Alan Moore, não usa uma máscara apenas para se esconder como indivíduo, mas para poder ser muitos, ou todos. É uma amálgama de pessoas, em que a máscara para de revelar o oculto de uma pessoa, mas se torna uma voz que estava oculta por estar oprimida. Assim, faz muito sentido que esse conceito se espalhe em protestos políticos, como os chamados black blocs, manifestantes mascarados que usam suas máscaras para dar mais voz aos seus ideais do que seus individuais. A pesquisadora Rita de Cássia Fossaluza Ferreira comenta mais sobre isso em seu trabalho “Máscaras Como Símbolos De Comunicação E Expressão” – e você pode encontrar o link na bibliografia.

As máscaras que expressam ideais ou divindades (mesmo que sejam festeiras ou palhaças) nos lembram da multiplicidade da humanidade, e podem revelar nossos maiores desejos ou ideais. Gilbert Durand, em “Estruturas Antropológicas do Imaginário”, comenta que:

“(…) da cosmética ao teatro passando pela coreografia, a escultura das máscaras e a pintura. As máscaras ‘estão na vanguarda da defesa contra a morte’, depois laicizam-se e tornam-se suportes da emoção estética pura” (DURAND, 2002:405).

Máscaras Iniciáticas

Quando perdemos o contato com a cultura, também perdemos a valorização do uso da máscara. Por exemplo, as máscaras sempre fizeram parte da cultura africana, e imaginamos que elas fossem vistas como objetos místicos. Sua função era a de disfarçar a pessoa que usa, para que ela pudesse entrar em contato com os espíritos, absorver sua força, e usar em benefício da comunidade. Assim, as máscaras podiam ser vistas em todos os tipos de ritual: da cura ao casamento, da iniciação aos funerais. Algumas das culturas africanas as utilizavam para identificar membros de sociedades secretas.

Porém, não sabemos exatamente que máscara era usada para que e com qual finalidade. Quando os europeus chegaram à África, eles acharam que era tudo muito curioso, mas não tiveram muita vontade de entender, realmente. Apenas agora, os historiadores voltaram a estudar as máscaras que estão em museus.

Também na África, no Egito Antigo, havia uma valorização da morte expressa por máscaras. O processo de mumificação é como um mascaramento do corpo a ser sepultado, que podiam levar pedras precisas e outras riquezas, dependendo do status do morto. Esse tipo de valorização tem bastante a ver com a visão da máscara como espectro. Para Bachelard, um convite à morte pode significar apenas uma morte social. Ou seja, um convite para se conhecer:

“Somos seres profundos. Ocultamo-nos sob superfícies, sob aparências, sob máscaras, mas não somos ocultos apenas para os outros, somos ocultos para nós mesmos. (…) Entrar em nós mesmos não representa senão uma primeira etapa dessa meditação mergulhante. Percebemos que descer em nós mesmos implica um outro exame, uma outra meditação. Para esse exame, as imagens nos auxiliam. E muitas vezes acreditamos estar descrevendo apenas um mundo de imagens no exato momento em que descemos em nosso próprio mistério. Somos verticalmente isomorfos em relação às grandes imagens da profundidade.” (BACHELARD: 1990:259,260)

Ou seja, na dialética entre o que está oculto e o que está revelado, a máscara pode ser a interface, a síntese, entre esses dois contrários. Uma máscara iniciática é um convite para a sua intimidade. Neste momento pandêmico, certamente uma intimidade mais forçada e cheia de angústias (apesar de Bachelard colocar em “A terra e os devaneios do repouso: ensaio sobre as imagens da intimidade”, que toda intimidade vem com conflito e angústia). A máscara como símbolo de conexão entre o interno e externo nunca fez tanto sentido para mim como agora.

Para ler mais:

BACHELARD, Gaston. (1986) A Máscara. In:

_. O Direito de Sonhar. São Paulo:

Difel, 165-173 p

__. (1990) A terra e os devaneios do repouso: ensaio sobre as imagens da intimidade. São Paulo: Martins Fontes. [1948]

DURAND, Gilbert. (2002) Estruturas antropológicas do imaginário: introdução a arquetipologia geral. São Paulo: Martin Fontes, 2002.

FERREIRA, Rita de Cássia Fossaluza. 2016. Máscaras Como Símbolos De Comunicação e Expressão. Disponível neste link.

https://unisal.br/wp-content/uploads/2016/03/Disserta%C3%A7%C3%A3o_RITA-DE-CASSIA-FOSSALUZA.pdf

SERRES, Michel. (1993) Filosofia mestiça. Tradução de Maria Ignez Duque Estrada. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.

*Jornalista e escritora com doutorado em Semiótica pela PUC-SP

** Texto publicado em 2 de maio de 2020 no site:

https://flaviagasi.blogosfera.uol.com.br/2020/05/02/as-mascaras-sao-sempre-simbolicas-um-historico-sobre-o-que-revelamos/

A importância das máscaras africanas na espiritualidade, arte e política

Como expressão artística de vários povos africanos, as máscaras possuem múltiplos significados em diferentes contextos.

Por Flávia Leal

As máscaras africanas simbolizam a diversidade de manifestações culturais em muitos povos do continente. São usadas em rituais de iniciação ou passagem, cerimônias religiosas, funerais, entre outros eventos de vital importância para essas sociedades. Elas estão no epicentro da identificação dos povos com seus antepassados e suas tradições, possuindo significados que ultrapassam a fronteira de seu valor estético. Neste artigo, irei analisar brevemente três esferas – que se complementam, é bom enfatizar – as quais procuram interpretar os conceitos e sentidos dos usos das máscaras, são elas: espiritual, teatral e política.

Segundo Joseph Campbell¹, as máscaras precisam ser percebidas a partir de seus valores míticos, dentro da lógica de um mundo que se torna mágico pela arte, saindo de uma perspectiva secular para a do “faz de conta” – é a lógica do encantamento e da criatividade. Para esta finalidade, podemos parafrasear o romancista alemão Thomas Mann quando define o mito como o princípio da vida, sendo a “fórmula sagrada para a qual a vida flui quando esta projeta suas feições para fora do inconsciente”.² Nesse mundo mágico ou fantástico, no sentido mais relevante que o termo foi usado pela literatura, o portador da máscara em um ritual não apenas representa deus, ele é, para os seus semelhantes, o próprio deus. Ele transcende, assim, sua própria identidade e se transforma em um ser espiritual poderoso.³

É interessante constatar que o uso das máscaras em cerimônias possui diferentes significados para as diferentes sociedades africanas. Para o povo Bwa (Burkina Faso), elas aparecem principalmente durante funerais e representam o meio de contato com espíritos que moram no mundo natural (muitas vezes tendo forma de insetos ou aves) e que oferecem proteção para aqueles que os procuram. Já para os Dogon (Mali), as máscaras são utilizadas em rituais de dança e estão relacionadas ao mito de criação do próprio povo, fazendo referência a Nommo (filho de Deus), responsável por guiar os oito ancestrais do céu para povoar a terra.O rosto formado por traços geométricos representa o deus criador; além deste, há também as máscaras figurativas antropomórficas – mostrando as diferentes categorias da sociedade – e zoomórficas, as quais celebram a relação entre os animais e os homens, fazendo referência à origem caçadora dos Dogon.

Veja no vídeo acima o uso das máscaras em um ritual Dogon.

De acordo com a perspectiva da mitologia comparativa, um elemento em comum entre as diferentes religiões africanas é a crença em um Deus criador e a necessidade de intermediários para o contato com esta divindade suprema. Esses espíritos, que podem ser também de ancestrais, intercedem a favor do bem estar da comunidade. As máscaras, portanto, são usadas como veículo de comunicação espiritual.

Rituais de passagem

Em muitas sociedades africanas a vida é dividida em diferentes ciclos – nascimento, passagem para a idade adulta e morte –, sendo que essas transições são marcadas por rituais que determinam para a comunidade a ida de uma etapa para a outra. Nesses momentos, os indivíduos estão particularmente vulneráveis às forças espirituais. Durante a iniciação dos jovens – preparação para a vida adulta – seus tutores usam máscaras que simbolizam uma aparência severa, com o objetivo de mostrarem autoridade e educá-los para seus futuros papeis sociais dentro da comunidade.

Foli

Outra característica da lógica do “faz de conta”, ainda segundo Campbell, é de que as coisas são aceitas pelo que são enquanto vivenciadas, isto é, podemos pensar essa passagem para um mundo mágico por meio de uma ótica teatral, da representatividade. Para isso, como bem analisou o historiador Johan Huizinga6, é necessário que a realidade seja percebida pela esfera do jogo, da brincadeira, da diversão. É a passagem do Homo sapiens, secular, objetivo, racional, para o Homo ludens, que joga e brinca e é espontâneo.

Indico ao leitor esse vídeo, que mostra o significado da dança e do ritmo para o povo Malinke de Boro (Guiné).

Máscaras e política

Por fim, não podemos esquecer a relação que existe entre arte e política. Em muitas sociedades africanas, os líderes, os chefes das comunidades, também conhecidos como régulos, têm importantes papeis no controle artístico. Em muitas cerimônias, a arte é utilizada para legitimar a autoridade política. No caso das máscaras, a partir desse viés, elas são usadas como agentes de controle social e de educação, como já foi explicado acima sobre os rituais de iniciação, com o objetivo de manter a ordem e o bem estar da comunidade.

Influência 

A partir desse breve panorama, é possível perceber a complexidade da expressão artística das máscaras africanas. Não é à toa, portanto, que elas influenciaram grandes nomes das artes plásticas, entre eles Pablo Picasso, Henri Matisse, André Derain e o escultor Jacob Epstein, sendo ainda hoje emblemáticas e pouco conhecidas. Para quem ficou interessado no assunto, esta influência da arte africana nos movimentos de vanguarda europeia será abordada em meu próximo texto.

Referências

¹ CAMPBELL, Joseph. As máscaras de Deus: mitologia primitiva. São Paulo: Palas Athena, 2010.

² MANN, Thomas. Freud and the Future. Life and Letters Today, vol. 15, n°5, 1936, p.89.

³ CLARKE, Christa. The Art of Africa: A Resource for Educators. New York: The Metropolitan Museum of Art, 2006.

HUIZINGA, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. São Paulo: Perspectiva, 2008.

Texto original em:

https://grupoafricanidade.wordpress.com

Ubuntu: A Filosofia Africana Que Nutre O Conceito De Humanidade Em Sua Essência

Uma sociedade sustentada pelos pilares do respeito e da solidariedade faz parte da essência de ubuntufilosofia africana que trata da importância das alianças e do relacionamento das pessoas, umas com as outras. Na tentativa da tradução para o português, ubuntu seria “humanidade para com os outros”. Uma pessoa com ubuntu tem consciência de que é afetada quando seus semelhantes são diminuídos, oprimidos. – De ubuntu, as pessoas devem saber que o mundo não é uma ilha: “Eu sou porque nós somos”.

Eu sou humano, e a natureza humana implica compaixão, partilha, respeito, empatia – detalhou em entrevista exclusiva ao Por dentro da África, Dirk Louw, doutor em Filosofia Africana pela Universidade de Stellenbosch (África do Sul). Dirk conta que não há uma origem exata da palavra. Estudiosos costumam se referir a ubuntu como uma ética “antiga” que vem sendo usada “desde tempos imemoriais”. Alguns pesquisadores especulam sobre o Egito Antigo (parte de um complexo de civilizações, do qual também faziam parte as regiões ao sul do Egito, atualmente no Sudão, Eritreia, Etiópia e Somália) como o local de origem do ubuntu como uma ética, mas o próprio fundamento do ubuntu é geralmente associado à África Subsaariana e às línguas bantos (grupo etnolinguístico localizado principalmente na África Subsaariana).

No fundo, este fundamento tradicional africano articula um respeito básico pelos outros. Ele pode ser interpretado tanto como uma regra de conduta ou ética social. Ele descreve tanto o ser humano como “sercom-os-outros” e prescreve que “ser-com-os-outros” deve ser tudo. Como tal, o ubuntu adiciona um sabor e momento distintamente africanos a uma avaliação descolonizada – contou o especialista e membrofundador da South African Philosopher Consultants Association.

Na esfera política, o conceito é utilizado para enfatizar a necessidade da união e do consenso nas tomadas de decisão, bem como na ética humanitária. Dirk lembra que também existe o aspecto religioso, assentado na máxima zulu (uma das 11 línguas oficiais da África do Sul) umuntu ngumuntu ngabantu (uma pessoa é uma pessoa através de outras pessoas) que, aparentemente, parece não ter conotação religiosa na sociedade ocidental, mas está ligada à ancestralidade. A ideia de ubuntu inclui respeito pela religiosidade, individualidade e particularidade dos outros.

Ubuntu ressalta a importância do acordo ou consenso. A cultura tradicional africana, ao que parece, tem uma capacidade quase infinita para a busca do consenso e da reconciliação (Teffo, 1994a: 4 – Towards a conceptualization of Ubuntu). Embora possa haver uma hierarquia de importância entre os oradores, cada pessoa recebe uma chance igual de falar até que algum tipo de acordo, consenso ou coesão do grupo seja atingido. Este objetivo importante é expresso por palavras como Simunye (“nós somos um”, ou seja, “a união faz a força”) e slogans como “uma lesão é uma lesão para todos” (Broodryk, 1997a: 5, 7, 9 – Ubuntu Management and Motivation, de Johann Broodryk). Uso da palavra com a democracia na África do Sul Após quase cinco décadas de segregação racial apoiada pela legislação, o processo de construção da África do Sul no pós-apartheid exigia igualdade universal, respeito pelos direitos humanos, valores e diferenças. Desta forma, a ideia de ubuntu estava diretamente ligada à história da luta contra o regime que excluía a cidadania e os direitos dos negros.

Texto de Geledés – Instituto da Mulher Negra

www.geledes.org.br

Projetos do Baka Studio

Africa do sul:

  • Artesanato social: O Baka Studio trabalha em pareceria com diversas associações de mulheres em diferentes países africanos, estabelecendo suas atividades principalmente na África do Sul e Camarões. A comercialização desses produtos representa a única forma de renda para essas mulheres e suas famílias. Na África do Sul, o Baka trabalha com uma associação de mulheres Xhosas que residem na Township de Gugoleto. Essas mulheres usam em sua produção resíduos da industria alimentícia, aproveitando, como por exemplo, ossos, chifres e peles de animais que seriam descartados no lixo.
  • Design sustentável – Reaproveitamento de resíduos: em nosso ateliê na cidade do cabo, fazemos o trabalho de reaproveitamento de resíduos da industriai alimenticia local, usando assim em nossa produção peles e couros consumidos para alimentação da população local. 

Brasil:

  • Imigrantes Africanos no Brasil: no Brasil o Baka Studio desenvolve diferentes projetos junto com imigrantes africanos que residem na cidade São Paulo. De início, o Baka procura entender a necessidade de cada pessoa que vem em nossa instituição e se possível, ajudá-las com suas respectivas demandas. Junto a isso, os designers do Baka Studio criam  alguns produtos com  a colaboração de alguns imigrantes, tanto com a intenção de utilizar matérias-primas comercializadas pelos mesmos, como também oferecer trabalhos a estes imigrantes na manufatura desses produtos.
  • Artesanato social: Entende-se como socialmente correto um empreendimento  que contribua para a construção de uma sociedade mais equilibrada, o qual diminua as diferenças sociais, havendo a justa valorização do trabalho de populações locais. Sendo assim, o Baka Studio, procura estimular a produção local, trabalhando em conjunto com duas famílias indigenas do Xingu, uma da etnia Kalapalo e outra Wuará.
  • Design sustentável – reaproveitamento de matéria-prima local: além do reaproveitamento de residuos da industria alimenticia, aqui no brasil, focamos o uso da madeira de demolição e de materiais orgânicos. Utilizamos em nossos projetos madeira e sementes locais encontradas caídas em nosso sitio no interior de São Paulo.
  • Educação: 
  1. Do artefato à cultura e ao agente : Temos como proposta principal a divulgação e a valorização da cultura étnica africana, a qual entendemos como uma das principais bases culturais do Brasil. Unindo o trabalho de restauro de peças históricas africanas (encontradas fora de sua comunidade de origem), com a criação de um acervo sobre as mesmas, e a comercialização de réplicas e criações atuais, tem-se como objetivo aproximar a população brasileira  com elementos culturais de suma importância.
  2. Cursos: para a promoção de conhecimento sobre a indenidade Afro-América, o Baka Studio oferece, em parceria com outros instituições, cursos livres sobre a cultura africana e sobre diferentes etnias do continente. Confira os cursos disponíveis on-line e a programação de cursos presenciais.
  3. Banco de dados: para a promoção de conhecimento sobre a identidade Afro-América  Em nosso blog, há um acervo de artigos (acadêmicos ou não) sobre: design, arte, cultura e principalmente sobre cultura africana, máscaras, esculturas étnicas, entre outros.

Camarões:

  • Criação e melhoria de infra-estrutura básica nas Vilas Rurais Bamilekes: Já em Camarões, é desenvolvido um trabalho de acompanhamento e suporte de vilas rurais, principalmente da etnia Bamileke, situadas no interior do país. O Baka estimula a produção de artefatos relacionados a cultura étnica tradicional  de cada vila, tais como máscaras, escudos e esculturas tradicionais com o objetivo, primeiramente, de divulgar essa cultura local e seus agentes para fora de suas fronteiras; e também com a intenção de comercialização desta produção, pois esta atividade mercantil é única que consolida uma atividade monetária nessas vilas (a entrada de papel moeda), o que é necessário para aquisição de produtos que não são possíveis de se obter através do escambo. Dessa forma, e de mais importância, essa atividade mercantil possibilita a melhoria da infraestrutra local, como a construção de casas de alvenarias, poços e cisternas, entre outros.\
  • Etnia Baka: parceria com a ONG Zerca y Lejos
  1. Direitos humanos: trabalhamos na investigação dos fatores que influenciam o desenvolvimento da etnia Baka e sua atual situação de extrema vulnerabilidade, a fim de disseminar e promover o cumprimento dos Direitos Humanos, com o qual buscamos aliviar a falta de reconhecimento dos direitos da população local no sul de Camarões, especialmente da etnia pigmeu Baka. Para isso, o objetivo é implementar atores no campo que, por meio de um estudo da legislação local, tornem seus direitos mais básicos conhecidos da população em risco. A população Baka, não é reconhecida como cidadãos plenos na sociedade camaronesa . Ao treinar líderes locais, sempre dentro do atual quadro jurídico, o objetivo é criar uma corrente crítica, primeiro dentro dos Baka e depois fazer com que grupos ativistas das etnias bantu entrem em ação. A pressão atualmente exercida sobre as terras da região, promovida pelo setor privado com a colaboração do Estado (grandes projetos agroindustriais, indústria extrativa, desmatamento e projetos) estruturação) e a implementação de políticas conservacionistas (parques naturais, reservas de biodiversidade e santuários), resultam na violação dos direitos humanos das populações locais. Além dessa pressão externa, o grupo étnico Baka está em desvantagem contra a etnia majoritária, os Bantus. Isso se traduz no difícil acesso dos Baka à sociedade, uma vez que carecem dos direitos fundamentais mais básicos, como acesso à justiça, marginalização no acesso à educação ou pouca participação política. Com este projeto, trabalhamos com comunidades e associações locais para promover a observância dos direitos humanos nas populações mais marginalizadas de Camarões.
  2. Educação: acreditamos que a educação é a ferramenta mais eficaz para alcançar a integração igual entre meninos e meninas pigmeus com os de outros grupos étnicos. Por esse motivo, consideramos que a sala de aula é o espaço perfeito para trabalharmos juntos desde a infância e a educação em valores de igualdade, que são o nosso compromisso de alcançar uma sociedade mais justa. A abordagem é desenvolver um projeto educacional sustentável a longo prazo e capaz para cobrir tantos quilômetros, cidades e crianças quanto possível. O principal objetivo é garantir o acesso à educação para todos os menores da etnia pigmeu Baka e facilitar o acesso ao ensino superior, em igualdade de condições com o restante das crianças no sul dos Camarões. agora eles são os que defenderão sua dignidade como indivíduos e como comunidade amanhã. Queremos dar a esses jovens a oportunidade de escolher um futuro digno, sem perder seus costumes e tradições, reforçados e apoiados pelos Centros Comunitários de Educação Infantil e por professores do mesmo grupo étnico. O Baka Studio faz doações mensais para a omg Zerca e Lejos para auxiliar no fornecimento de material escolar por um ano para todos os meninos e meninas do projeto de assistência social a menores em risco. É realizado na área do Grande Djoum antes da detecção de vários casos de crianças em situações de risco e negligência significativos. O horizonte mais promissor com o qual podemos sonhar é que os meninos e meninas pigmeus Baka de hoje podem se tornar os atores de seus desenvolvimento próprio e é por isso que trabalhamos incansavelmente. Além disso, seguindo nosso compromisso com a solidariedade, a compreensão dos outros e a justiça social, em Madri há um forte compromisso com o voluntariado e a educação para o desenvolvimento nos centros educacionais.

COMO COLABORAR:

  1. Compre nossos produtos, pois a renda é revertida para manutenção de nossos projetos
  2. Faça uma doação:
  • 20 reais = material escolar suficientes para um mês para as crianças do projeto educacional da etnia Baka desenvolvido em parceria da omg Zerca y Lerjo
  1. Seja um voluntário em uma instituição parceira na África:

Bonecas da Prosperidade

RESUMO: BONECA AFRICANA DA ETNIA NDAMJI, DO NORTE DE CAMARÕES. PEÇA USADA PARA PROSPERIDADE E FERTILIDADE DAS FAMILIAS NDAMJI. ESCULTURA ATUAl.  

          Na África, as bonecas são de grande significado cultural. Além de suas aparências distintas, as bonecas têm diversas funções. Elas são usadas ​​como amuletos de boa sorte e amuletos, decorações, presentes, brincadeiras, práticas rituais e heranças de família. Bonecas são feitas de praticamente qualquer coisa; argila, madeira e fibra tecida. 

         As Bonecas Namji, também conhecidas como Bonecas Dowayo, são bonecas de fertilidade e prosperidade nativas da tribo Namji, no norte dos Camarões, comuns da década de 1940. 

          Elas são esculpidas em Pau-rosa Africano, uma leguminosa nativa da República Democrática do Congo, Camarões, Gabão e Guiné Equatorial. Um único bloco de madeira de jacarandá africano é esculpido à mão em forma geométrica e decorado com miçangas coloridas, metais, fibra, conchas de búzios, moedas e até mesmo couro. Cada boneca é esculpida com uma estatura única e expressão facial.  

         Elas tem diferentes formas geométricas. Algumas são curtas, outras longas e esguios, outras gordas, outros finas. As bonecas são marrons, com uma cabeça redonda grande, com olhos esboçados, nariz e boca que lhes dá uma expressão facial cômica, em posição típica rígida e vertical. Seu corpo é coberto  com tecido de contas multicoloridas e pérolas de vidro, as mãos e os pés são decorados com correntes de conchas de búzios. As vezes moedas coloniais são anexadas aos ombros, braços e pernas usando pérolas de vidro. Embora a maioria das bonecas sejam femininas, também existem versões masculinas. 

Mini Doc – Bonecas da Fertilidade

Tradição e Uso

          Bonecas Namji são amuletos de fertilidade e prosperidade dadas aos casais durante uma cerimônia de casamento. Os Namji acreditam que estes bonecos  são feitos com poderosos encantos que aumentam a fertilidade da noiva, afastam os maus espíritos que causam infertilidade e trabalho de parto difícil. Além disso, elas simbolizam prosperidade para o casal, para a vida nova e para as novas empreitadas. 

          Muitas vezes a noiva carrega a boneca como um amuleto de boa sorte em qualquer lugar que ela vá, em sua bolsa ou roupa. Uma vez que o casal  tem um filho, a boneca é colocada no altar da família ou passada para o bebê. 

          Bonecas Namji também são dadas às crianças para elas brincarem, quem tratam as bonecas como seus bebês: alimentado-as, banhando-nas, vestindo-las, etc. As crianças podem brincar com essas bonecas até a puberdade. Acredita-se que tais dramatizações incentivem as meninas a se prepararem para seus futuros papéis como mães. 

         Por causa de sua autenticidade e herança cultural, as Bonecas Namji são consideradas as bonecas mais bonitas da África.