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Design para Todos
18
out
Texto de texto Ethel Leon
Fotos de daniel ducci, dulla e divulgação / retrato: alice hattor
In: Revista Bamboo
Longe de uma biografia chapa branca, novo livro sobre michel arnoult, com organização de ethel leon, investiga aspectos que vão muito além do desenho dos inúmeros móveis que ele criou.
É muito fácil perder a medida quando escrevemos sobre alguém que admiramos. Esse era o grande perigo do livro Michel Arnoult: Design e Utopia, recém-lançado pelas Edições SESC e organizado por mim. O fantasma da biografia celebrativa rondou a produção do volume, que teve início há mais de sete anos.
Foi assim: Annick Arnoult, filha de Michel, me procurou com a ideia de fazer um livro e um vídeo sobre o pai, que morrera em 2005. Eu já escrevera sobre Arnoult (ele é tema de um dos capítulos de meu livro Memórias do Design Brasileiro) e era fã de seu trabalho. Acompanhava Annick a professora da FAU-USP Yvonne Mautner, que já realizara um filme com Michel sobre design e produção de móveis.
Esta era a praia do francês Michel Arnoult: fazer móveis de madeira. Nascido em 1922, teve como primeiro trabalho um cargo administrativo em uma fábrica alemã de berços durante a Segunda Guerra Mundial – ele preferiu tornar-se mão de obra no serviço de trabalho obrigatório instituído pelos nazistas do que ir para o front.
Finda a guerra, Arnoult cursou a escola parisiense Camondo, de artes aplicadas, estagiou com o designer Marcel Gascoin e partiu para a América Latina.
Ele passou um ano no México, outro na Venezuela e se preparava para voltar à Europa quando desembarcou no Rio de Janeiro em abril de 1950 com o intuito de conhecer a obra de Niemeyer.
Foi fácil não apenas conhecer o já famoso arquiteto como ganhar quase de imediato um emprego em seu escritório. Arnoult cursou arquitetura na antiga Universidade do Brasil e foi ficando por aqui. Sua grande vontade era fazer móveis e, ainda estudante, ele se associou ao escocês Norman Westwater. Os dois jovens desenhavam móveis fabricados por marceneiros de Curitiba e revendidos para os colegas, em fase de montar residência própria.
Foi assim que nasceu a Mobília Contemporânea, empresa que marcou época com móveis de madeira leves, muitos deles modulares, dirigidos aos jovens. A empresa se estruturava nos anos em que Juscelino Kubitschek avançava a industrialização brasileira e que marcaram a implantação de uma sociedade de consumo.
Já nos anos 1960, os móveis destinados aos apartamentos das novas classes médias urbanas passaram a ser vendidos desmontados, em caixas, para que os consumidores os finalizassem. Essa foi uma das estratégias de Arnoult para tornar suas peças acessíveis. Em 1963, a empresa lançou a poltrona Ouro Preto, que inovou ao substituir percintas de couro por prosaicos fios de nylon, indicando a leveza e o caráter de serialidade industrial da fabricação.