Dia da Mulher: qual a origem e como as mulheres negras tiveram voz

No dia 8 de março se comemora o Dia Internacional das Mulheres. A data tem origem oficial no movimento operário na primeira década dos anos 1900, mas, como toda grande transformação, as sementes foram plantadas pelas sufragistas ainda no século XIX. Em 1884, Susan B. Anthony, sufragista estadunidense, solicitou uma emenda à Constituição dos Estados Unidos que garantisse às mulheres o direito ao voto. A emenda que permitiu o voto universal veio em 1920, 13 anos depois de sua morte e concomitante a outras conquistas feministas.

Em 1908, o Dia da Mulheres foi marcado pela marcha de alguns milhares de mulheres, que ocuparam as ruas de Nova York. Elas exigiam redução das jornadas de trabalho e salários melhores. Além disso, queriam tomar parte nas decisões políticas do país: lutavam pelo direito ao voto, ainda exclusivo aos homens. Um ano depois, o ato se repetiu, ainda sem indícios de que seria perpetuado. Em 26 de agosto de 1910, durante a Segunda Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, em Copenhague, Clara Zetkin, uma ativista marxista e feminista alemã, propôs tornar a data internacional e anual. A ideia era fazer, do evento, palco de manifestações pelo direito de voto das mulheres, pela igualdade entre os sexos e pelos ideais de esquerda.

O primeiro Dia Internacional da Mulher foi comemorado em 19 de março de 1911 na Alemanha, Áustria, Dinamarca e Suíça e, a princípio, não tinha um dia fixo – a data usada hoje surgiu apenas posteriormente. Em 23 de fevereiro de 1917 do calendário juliano, usado na Rússia da época, oito de março do gregoriano, um grupo de operárias protestou nas ruas de São Petersburgo contra a fome e a Primeira Guerra Mundial, no que ficou conhecido como “Pão e Paz”. Poucos dias depois, o czar Nicolau II foi forçado a abdicar e o governo provisório concedeu às mulheres o direito ao voto.

Com a conquista, instituiu-se a data do protesto russo como o dia oficial das celebrações da luta feminina. A ONU, no entanto, só oficializou o Dia Internacional das Mulheres em 1975, mais de 50 anos depois.

As mulheres no front

            A história do feminismo coloca mulheres brancas no centro, como aquelas que puxaram as companheiras consigo e garantiram os primeiros direitos. De fato, os principais nomes, os mais lembrados, são de senhoras aristocratas que, muitas vezes abolicionistas, como a própria Susan B. Anthony, lutaram por direitos iguais sem, no entanto, deixar de impedir que mulheres negras encontrassem espaço para compor as ligas femininas.

            Mesmo assim, elas não se abstiveram. Somando 20% do contingente de mulheres que integravam a força de trabalho dos Estados Unidos na primeira década do século XX, elas tinham as próprias questões a defender. Não só tinham a restrição de sexo, mas de classe e de cor. Suas razoes para defender o voto universal eram triplas.

            Diversos são os nomes de trabalhadoras negras que nunca foram aceitas pela Associação Nacional das Mulheres pelo Sufrágio Feminino. As recusas às candidaturas se explicavam pelo suposto receio de que, ao aceitarem associações inteiras de mulheres negras, as sufragistas do sul americano, defensoras da escravidão, se opusessem ao movimento e dificultassem a conquista do voto universal. As barreiras, no entanto, não pararam essas mulheres de apoiar com tudo que lhes estivesse ao alcance a luta pela participação feminina na política. Conheça três mulheres negras que contribuíram com as lutas femininas do início do século XX:

da B. Wells nasceu como escrava no Mississipi, foi jornalista e editora do Free Speech and Headlight, sufragista, feminista e socióloga. Encabeçou uma campanha anti-linchamento depois que seu amigo Thomas Moss, um comerciante bem-sucedido, foram assassinado por concorrentes brancos.  Também foi uma das fundadoras da Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor (NAACP) em 1909, contribuindo para o movimento dos direitos civis. Ao longo da vida, integrou o Partido Republicano, onde teve forte atuação política, mas, descontente com a postura de ambas as frentes políticas, no fim da vida concorreu de forma independente à câmara de Illinois.
Mary Eliza Church Terrell foi a primeira mulher negra a ser nomeada para o conselho escolar de uma grande cidade, o Distrito de Columbia. Juntou-se a Ida B. Wells em campanhas anti-linchamento depois da morte de Moss. Em sua carreira como ativista, fundou a NAACP e a Liga das Mulheres de Cor de Washington. Também participou da fundação da Associação Nacional das Mulheres de Cor, sendo sua primeira presidente, onde trabalhou pelo sufrágio feminino e o sufrágio negro. Com esse objetivo, fez campanha entre as organizações negras e as principais organizações brancas.
Mary Jane McLeod Bethune foi uma educadora, filantropa e ativista dos direitos civis. Defendia a igualdade racial e de gênero, fundou diversas instituições, incluindo uma escola particular para afro-americanos, que transformou em faculdade. Liderou campanhas de registro de eleitores depois que as mulheres ganharam o direito de voto e participou da transição dos eleitores negros do Partido Republicano para o Democrata durante a Grande Depressão. Foi presidente da Associação Nacional dos Clubes de Mulheres de Cor e presidente fundadora do Conselho Nacional das Mulheres Negras. Também foi a afro-americana com o mais alto cargo no governo americano, como diretora de Assuntos Negros para o presidente Roosevelt.

 Artigo escrito por Antonieta Campos – Psicóloga e mestra em psicologia clínica pela PUC-SP, pesquisa sobre literatura e saúde mental da Mulheres